Escola abandonada vai abrigar projeto social

ANTIGO PRÉDIO DA E.E. FELISBERTO ALVES CARREJO SERÁ A SEDE DE ONG QUE IRÁ OFERECER ATIVIDADES À COMUNIDADE LOCAL

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rafael Abadio Perdigão nasceu e cresceu no bairro Lagoinha. Na semana passada, ele visitou a antiga sede da Escola Estadual Feliberto Alves Carrejo, onde cursou a 8ª série há 20 anos atrás. “Quando entrei e vi essa escola completamente abandonada foi a mesma coisa de ver a minha infância destroçada”, conta Rafael, hoje com 35 anos e prestes a mudar a história do ambiente onde cultivou amigos, deixou marcas e aprendeu boa parte dos ensinamentos que leva contigo até hoje.

No início do mês, a ONG que ele ajudou a fundar obteve autorização da Prefeitura para entrar no prédio e fazer a limpeza do espaço enquanto aguarda a documentação que irá garantir a cessão do imóvel por cinco anos, prazo que pode ser renovado. A intenção a curto prazo é transformar a antiga escola em sede da ONG Narrativa da Imaginação, que iniciou os trabalhos em 2011 com cunho cultural e hoje tem a educação como foco central de suas atividades. “Com essa oportunidade de ocupar o espaço, vamos trazer a escola de volta das cinzas e transformá-la num novo ambiente”, promete Rafael Abadio.

O projeto para os primeiros cinco anos é oferecer um espaço educacional aberto à comunidade, com a implantação de ludoteca, biblioteca, área para esporte, entre outras atividades. “Ao dialogar com a comunidade a gente abriu a disposição de uma horta comunitária e também um núcleo de assistência jurídica”, conta o presidente da ONG, Rafael Correia Rocha. “E futuramente, com apoio do poder público, pretendemos implementar uma nova escola modelo”, completa.

O primeiro passo foi dado no sábado passado, quando um mutirão de voluntários arregaçou as mangas e ajudou na limpeza do imóvel, que estava fechado havia três anos. Gente de todas as idades e classes sociais veio dar a sua contribuição. Fábio Ferreira de Souza é coveiro e saiu do bairro Morumbi para auxiliar na capina do mato que já ultrapassava os dois metros de altura. “É muito satisfatório poder vir ajudar e dar um pouco do que aprendemos no dia a dia”, diz o acolhido da Missão Vida, uma ONG que cuida de moradores de rua e pessoas que têm problemas com álcool e droga.

Francisco Jonas é licenciando em Matemática, ficou sabendo sobre o mutirão de limpeza através do site da ONG Narrativa da Imaginação e decidiu por conta própria dar a sua contribuição. “O principal motivo da sociedade é a sociedade. Não adianta só ficar esperando por ações do governo, tem que ir lá e fazer. A gente tem que se mover, senão você vai ficar parado e nunca sairá do lugar”, disse, enquanto fazia a limpeza de carteiras que estavam empoeiradas nas salas de aula.

Até o pequeno Guilherme Eticuslupus Almeida Pagani, de 10 anos, tem consciência de que uma escola fechada não contribui para o futuro de ninguém. “A gente precisa de educação, aprendizagem, como vamos trabalhar sem os estudos?”, indagou, enquanto varria o chão do pátio descoberto.

O imóvel que fica na rua Quintino Bocaiuva, bem no meio do bairro Lagoinha, era um dos três prédios que abrigavam os alunos da Escola Estadual Felisberto Alves Carrejo. O terreno era do Município e havia sido doado ao Estado. Como as acomodações eram pequenas, a Prefeitura cedeu outros dois espaços para receber o restante dos estudantes. A maioria deles era do bairro Shopping Park que, na época, ainda não tinha uma escola própria. Para chegar até o Lagoinha, os alunos eram transportados em ônibus.  Com a construção da nova sede da escola Feliberto Alves Carrejo no Shopping Park, em 2014, o Estado devolveu o imóvel ao Município. Desde então, o espaço ficou ocioso.

CONSCIÊNCIA

Comunidade ajudou a preservar o imóvel

O fato que chamou a atenção da ONG Narrativa da Imaginação, além da perspectiva de ocupar o espaço, é que durante os três anos em que a escola ficou fechada não houve invasão do imóvel. “A comunidade em nenhum momento depredou o espaço físico, ao contrário, ela cuidou”, observa Rafael Correia, o presidente da ONG.

Seu xará Rafael Abadio encontrou na parede da antiga sala onde estudou a prova de que quase tudo por lá permaneceu intacto. Ao visitar o espaço que um dia frequentou, avistou a marca com caneta laranja na parede onde havia registrado seu apelido “Fael”. “Está aqui”, diz, com um suspiro profundo, o ex-aluno da Fesliberto Alves Carrejo lembrando que gostava de sentar na fileira do canto, perto da porta.

A escola tem 2.412 m2 de área e 14 salas de aula. Em todas elas havia carteiras e quadro negro. Quando os voluntários chegaram, as únicas marcas de depreciação encontradas eram do tempo. Salas cheias de poeira, mobília corroída pela falta de manutenção, muito mato e centenas de livros empilhados num canto de sala. Bruna Fontana trabalha num dos projetos da ONG, uma editora virtual, e foi responsável por limpar todo o acervo e selecionar os exemplares que ainda têm condições de uso. “A maior parte dos livros dá para aproveitar, muitos só estão empoeirados. Outros têm bolor e precisam ser descartados porque vão degradando e podem passar o fungo em contato com outros livros”, diz.

O acervo que restou será reaproveitado na criação da biblioteca. “Várias pessoas que estudaram aqui estão interessadas na reativação do espaço. Abrindo a ONG, a gente começa a despertar o interesse pela cultura, lazer, atividade social”, diz Bruna, contando que nas primeiras horas de mutirão muita gente do bairro ficou sabendo da notícia e veio à escola para ajudar ou saber mais detalhes do projeto.

Uma delas foi Danúbia Andrea, que mora há 30 anos no bairro Lagoinha e fez até a 8ª série na Escola Estadual Felisberto Alves Carrejo. “Tem pelo menos 15 anos que não entrava na escola. Aqui eu aprendi muita coisa. Vai ser muito bom ver a escola aberta novamente com novos projetos”, diz Danúbia, que hoje está desempregada e já pensa em ajudar em alguma atividade.

Olavo Vieira da Silva é carpinteiro aposentado e mora há 43 anos no bairro. Um dos netos estudou na escola, que fica bem de frente a sua casa. “Muito boa a iniciativa. Estamos de braços abertos para ajudar”, conta.

A vereadora Flávia Carvalho atua no bairro há algum tempo e quando soube do interesse da ONG em ocupar o imóvel ajudou a agilizar a parte burocrática, apontando os caminhos para liberar a entrada dos voluntários e firmar o termo de cessão junto à Prefeitura. “A população do Lagoinha há muito tempo pede para utilizar essa escola. O interessante que ela cuidou do espaço na esperança de poder voltar a reutilizá-lo. Não podemos nos furtar de ajudar”, diz.

ONG

Projetos trabalham valores humanos

Nos últimos cinco anos, os integrantes da ONG Narrativa da Imaginação iniciaram um trabalho de formação de professores, publicação de livros e revistas e o desenvolvimento de jogos educacionais. Hoje, já com o reconhecimento de entidade de utilidade pública municipal e estadual, desenvolve vários projetos com crianças e jovens. Um deles é o programa “Caminhos do mestre”, que acontece aos fins de semana no Parque do Sabiá e que reúne até 50 pessoas numa única edição. Por meio de métodos lúdicos e alternativos de educação, o grupo tenta repassar valores como o respeito, esportividade e a importância da família.

“A ONG foi baseada em nove valores: justiça, ordem, equilíbrio, bravura, sabedoria, esperança, determinação, amor e fé. É com eles que vamos mudar a educação não só da nossa comunidade, mas da cidade e quem sabe até do país”, diz Rafael Abadio.

Fonte: http://olhanodiario.com.br/noticia/11246/escola-abandonada-vai-abrigar-projeto-social

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